
O som das páginas, o cheiro do papel e o toque das mãos no objeto real criam uma conexão que vai muito além da leitura: é um ritual de presença.
Num mundo de telas infinitas e notificações que não param, abrir um livro físico é quase um ato de resistência. O som das páginas, o cheiro do papel e o toque das mãos no objeto real criam uma conexão que vai muito além da leitura: é um ritual de presença. Enquanto o digital chama pela pressa, o livro impresso convida à pausa. Ele diminui a ansiedade, amplia a concentração e nos devolve o prazer da contemplação — algo raro na era da distração constante.
Para a psicóloga Rosely Sayão, especialista em comportamento familiar, “o livro físico desacelera a mente. Ele exige entrega e foco, e essa atenção plena é um dos maiores antídotos contra a ansiedade infantil e adolescente”. Ao virar cada página, a criança ou o jovem se envolve emocionalmente com a narrativa, treina paciência e aprende que nem tudo acontece num clique. É um exercício de presença, algo que a leitura em tela, tão fragmentada, muitas vezes não oferece.
O neurocientista Ivan Izquierdo, referência em memória e aprendizado, já afirmava que o ato de ler no papel ativa áreas diferentes do cérebro — ligadas à memória afetiva e à retenção de informações. “O papel cria um vínculo entre o leitor e o conteúdo. O corpo participa da leitura: olhos, mãos e até o ritmo da respiração entram em sintonia com o texto”, dizia ele. Por isso, estudos mostram que quem lê livros físicos compreende melhor e recorda com mais profundidade o que leu.Existem coisas que nunca sairão de moda — e o livro é uma delas. Ele é abrigo, professor silencioso e companheiro fiel. Em tempos de velocidade e dispersão, segurar um livro é redescobrir o valor da pausa, da imaginação e do tempo vivido com sentido. Para as famílias, manter o hábito da leitura física é oferecer aos filhos não apenas cultura, mas também serenidade. E talvez seja justamente isso o que mais falta ao nosso tempo: histórias que ensinem a respirar.



