
Nos últimos meses, um novo comportamento digital tem chamado a atenção de pais e educadores: o chamado “perfil DIX”. Trata-se de uma segunda conta no Instagram que muitos jovens e até pré-adolescentes mantêm em segredo, paralela ao perfil “oficial” que a famíliaconhece.
Por Gabriel Couto – Colaboração especial para a Revista Pais Atentos
Nessa conta, geralmente privada e acessada apenas por amigos muito próximos, o conteúdo é bem mais íntimo, e, muitas vezes, ousado ou provocativo. O fenômeno, que começou como uma tendência entre influenciadores, virou um alerta para famílias que nem imaginam o que os filhos compartilham online.
A psicóloga e especialista em comportamento infantojuvenil, Juliana Reis, afirma que o perfil DIX é uma tentativa de controle da própria imagem e uma fuga da vigilância dos adultos. “Não se trata apenas de rebeldia, mas de um desejo profundo por autonomia e identidade. O problema é que, nessa busca, a criança ou adolescente pode acabar se expondo a riscos reais, como cyberbullying ou assédio”, explica. Segundo ela, os pais precisam criar pontes de diálogo e não apenas impor limites digitais, para que o filho se sinta seguro para conversar.
O educador digital Carlos Soares alerta que o principal sinal de que seu filho pode ter um perfil oculto é o excesso de tempo nas redes, mesmo quando aparentemente não há atividade no perfil oficial. “Pais atentos devem observar mudanças de comportamento, uso excessivo do celular à noite, exclusividade com certos aplicativos e dificuldade de conversar sobre o que fazem online. Tudo isso pode indicar que algo está sendo escondido”, explica. Ele recomenda que os pais, além de supervisionar, acompanhem a vida digital dos filhos com interesse genuíno.
Já a promotora da infância e juventude Dra. Helena Miranda ressalta que, juridicamente, a responsabilidade pela exposição de menores nas redes sociais ainda é pouco discutida nas famílias. “O Estatuto da Criança e do Adolescente protege o direito à privacidade, inclusive nas redes. Se os próprios pais desconhecem a vida digital dos filhos, estamos diante de uma brecha perigosa”, afirma. Ela defende ações preventivas nas escolas e campanhas públicas para conscientizar famílias sobre o impacto do mundo digital na formação dos jovens.
Em tempos de superexposição e identidades múltiplas nas redes, fica o alerta: é fundamental que os pais acompanhem de perto a vida digital dos filhos, não com desconfiança, mas com presença e afeto. Perguntar, escutar, orientar e proteger nunca foi tão necessário quanto agora.