
Antes mesmo de entender as palavras, a criança já entende o tom da voz, o ritmo da narrativa, o calor do colo durante a leitura. Ouvir histórias na primeira infância é mais do que uma atividade educativa — é um ato de afeto
Cada conto lido ou contado se transforma em ponte entre o adulto e o pequeno ouvinte, criando um espaço onde o tempo desacelera e a conexão se fortalece. Ali, no universo dos dragões e das princesas, mora também a escuta, o acolhimento e a segurança emocional.
Contos infantis ensinam o que muitas vezes o mundo adulto não consegue explicar com clareza: o medo, a coragem, a perda, a espera, a esperança. Ao se identificar com personagens, a criança aprende a lidar com sentimentos complexos de forma simbólica e segura. O lobo mau pode representar uma ameaça real, mas é vencido com astúcia. A princesa chora, mas encontra ajuda. O herói tem medo, mas segue em frente. Assim, a leitura se torna um espelho das emoções humanas — um treino delicado de empatia, resiliência e autoconhecimento.
Ler para uma criança pequena é também dizer: “estou com você”. É oferecer tempo de qualidade, presença inteira e olhos nos olhos — em um mundo onde as telas disputam cada segundo da atenção familiar. Ao contrário dos estímulos rápidos da tecnologia, a história contada exige silêncio, imaginação e vínculo. E é justamente aí que ela trabalha a inteligência emocional: desenvolve a atenção, a escuta ativa, a memória afetiva e a capacidade de compreender a si mesmo e aos outros.
Cultivar o hábito da leitura na infância é plantar sementes de consciência, sensibilidade e criatividade. Mas é também construir lembranças afetivas que ficam para sempre. Um dia, quando já souber ler sozinho, o filho talvez nem se lembre do nome do livro — mas lembrará do aconchego do sofá, da voz suave que narrava, do calor do abraço. E isso será, para sempre, um dos pilares de sua segurança interior. Porque histórias bem contadas não terminam com um ponto final — elas continuam morando no coração.