Quando um novo ano começa: o que os alunos levam na mochila que não está nos cadernos

Por Júlia Antunes – Especial para Pais Atentos

A mudança de ano letivo é sempre mais do que uma troca de sala ou de professores. Para crianças e adolescentes, ela representa um rito silencioso de passagem: um convite para crescer, rever o que funcionou, abandonar o que pesava e se abrir ao que virá.

E, embora adultos nem sempre percebam, esse é um momento emocionalmente delicado. Entre o entusiasmo pelo novo e o medo do desconhecido, os estudantes carregam dúvidas, expectativas e sonhos que nem sempre conseguem expressar.

Mas há algo bonito nesse movimento: cada início de ano escolar é também uma chance de recomeçar.

O que realmente muda quando o ano letivo vira?

Especialistas em desenvolvimento infantil afirmam que essas transições são fundamentais para a construção da autonomia e da autoestima.

A psicopedagoga Helena Carvalho explica:
“Quando o aluno muda de ano, ele tem a chance de se ver diferente. Ele compara quem foi com quem pode ser. Esse processo é natural e muito importante para o crescimento emocional.”

Essa mudança envolve:

  • novas responsabilidades;
  • maior exigência de organização;
  • relações sociais renovadas;
  • desafios cognitivos;
  • e uma dose saudável de insegurança.

O medo que muitos alunos sentem não é sinal de fraqueza — é sinal de movimento.

Os aprendizados invisíveis que eles levam consigo

Se pudéssemos abrir a mochila emocional de um estudante que está subindo de ano, encontraríamos:

1. As conquistas do ano passado
Aquela prova difícil, o trabalho em grupo que deu certo, a coragem de apresentar na frente da sala.

2. Os desafios que ensinaram mais que os acertos
As brigas com colegas, o problema que não conseguiram resolver de primeira, o dia em que a motivação não apareceu.

3. As relações que formam caráter
O amigo novo, a professora que acolheu, o colega que ajudou sem pedir nada em troca.

Esses elementos não aparecem no boletim — mas orientam a vida.

A ansiedade e o entusiasmo convivem — e está tudo bem

Mudanças mexem com o emocional de qualquer criança.

O adolescente que diz “tanto faz” pode estar morrendo de medo por dentro.
A criança que parece empolgada pode estar nervosa por não saber se dará conta.

Por isso, psicólogos recomendam que a família:

  • normalize o medo (“é normal sentir frio na barriga”);
  • resgate conquistas passadas (“você cresceu muito este ano”);
  • ofereça presença mais que soluções;
  • evite comparações entre irmãos ou colegas;
  • e mantenha uma rotina leve nos primeiros dias.

Essa postura cria segurança interna — e segurança é o combustível do aprendizado.

O papel da escola nessa travessia

Mudar de ano letivo significa entrar em nova fase acadêmica, mas não apenas isso. As escolas que acolhem a chegada dos alunos — com escuta, gentileza e clareza de expectativas — ajudam cada estudante a reorganizar suas emoções.

Atividades de integração, rodas de conversa, acolhimento docente e espaços de diálogo reduzem o impacto da transição e fortalecem a autoconfiança dos alunos.

A escola que acolhe ensina antes mesmo de dar aula.

Para os alunos, uma mensagem final

2025 terminou carregando suas dores, suas vitórias e suas histórias.
2026 começa como uma página em branco — mas não vazia.

Você já chega ao novo ano com tudo o que aprendeu:
suas forças, seus talentos, suas tentativas, sua coragem e seu jeito único de ser.

Um novo ano é mais do que um calendário:
é um convite para descobrir do que você é capaz quando acredita em si mesmo.

E, como lembra a professora Marina Lopes, há 30 anos em sala de aula:
“O aluno não recomeça do zero. Ele recomeça de onde já é grande.”