
Na tentativa de proteger, acabam deixando de educar. O problema não é defender o filho — é blindá-lo das lições mais importantes da vida. E algumas delas só chegam quando a realidade bate na porta da escola.
Paulo Pio
Tem pai que vai à escola como quem vai a uma trincheira. Chega armado de argumentos, desvia do espelho e mira no professor. “Meu filho disse que foi perseguido”, “A coordenadora não pode gritar com ele”, “Foi só uma brincadeira”, “Vocês pegaram pesado demais”. E assim, na tentativa de proteger, acabam deixando de educar. O problema não é defender o filho — é blindá-lo das lições mais importantes da vida. E algumas delas só chegam quando a realidade bate na porta da escola.
Já ouvi gente dizer: “Mas meu filho é tão calado, ele jamais faria isso”. Ou ainda: “Se ele respondeu o professor, é porque se sentiu desrespeitado”. E então, em vez de investigar com honestidade, acreditam na versão editada da criança, feita sob medida para parecer vítima. Porque dói menos pensar que a escola está errada do que admitir que talvez o filho esteja mesmo testando os limites. Mas se a dor de admitir vem com o crescimento, o conforto da negação pode vir com o preço da repetição.
Alguns pais vasculham provas, questionam critérios, buscam brechas no regulamento como advogados de réus inocentes. “Ninguém avisou que era para colorir”, “Mas ele entregou, só esqueceu o nome”, “Essa correção foi injusta”. E esquecem que a escola não é tribunal, é campo de treino para a vida. E a vida não costuma aceitar justificativas para o descuido, para a preguiça, para a ausência de esforço. Ali, onde hoje se contesta uma nota, amanhã talvez falte um emprego, uma chance, um reconhecimento.
Há também os que procuram a escola apenas para reivindicar: querem explicações, retratações, adaptações. Poucos perguntam: “Como posso ajudar?”. Mas é aí que mora o verdadeiro compromisso. Participar da formação dos filhos é muito mais do que ir a reuniões ou responder bilhetes — é assumir que a educação é feita em parceria, e que há momentos em que o mais importante não é defender, mas orientar. O filho precisa entender que, se errou, precisa reparar. Se tropeçou, precisa levantar. E se alguém corrigiu, talvez tenha sido um ato de cuidado, não de ofensa.
Filho não é frágil como cristal. É forte como barro fresco — moldável, capaz de resistir ao tempo, mas só se tiver firmeza. Toda vez que um pai encobre o erro de um filho, está dizendo, sem palavras: “Você não precisa mudar”. Mas educar é justamente o contrário: é ensinar que cada erro pode ser um ponto de virada. Que a escola não é inimiga, é espelho. E que crescer, de verdade, exige coragem para olhar esse reflexo com humildade. Porque o amor que prepara para o mundo não é o que livra de tudo — é o que ensina a lidar com tudo.

Paulo Pio
Especialista em Dependência Química – GREA / USP. Agente Multiplicador na Prevenção ao Uso de Drogas – DIPE / DENARC. Conselheiro para Lideranças Comunitárias na Prevenção ao Uso de Drogas – UFSC / SENAD. Agente de detecção do Uso Abusivo e Dependência de substâncias psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento – SUPERA / UNIFESP. Diretor e idealizador do projeto PAIS ATENTOS, filhos felizes, alunos saudáveis. Bacharel em Propaganda e Marketing e formado em Disciplina positiva.